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Entre | Linhas | Entrevista com Patrícia Bento

“Não se alcança a iluminação fantasiando sobre a luz, mas sim tornando consciente a sombra… o que não se traz à consciência manifesta-se nas nossas vidas como destino…” 

Carl Jung


 

Usando apenas 10 palavras, descreve-te a ti mesma.

Sorridente, Enérgica, Lado B, Arrojada, Alegre, Espontânea, Organizada, Arrogante, Curiosa, Impulsionadora.

O que dirias ao amor:

“Olá amor, quando agendamos café com a nossa sombra? Adoro juntar-vos!”

Se pudesses fazer uma pergunta ao Universo, que tivesses a certeza que iria ser respondida, qual seria?

Respondo a esta questão com uma das frases que está mais enraizada na minha espiritualidade: “Não és uma criatura humana numa aventura espiritual; És uma criatura espiritual numa aventura humana!” e por isso, posso muitas vezes olhar lá para cima, deslumbrar-me, perguntar-me como seria se obtivesse respostas “fáceis”, mas depois acabo por escutar a minha verdade! E sigo caminho; e sigo bem, sigo mais deslumbrada, sigo de forma mais mágica, desbravando eu própria o matagal da vida! Assim é muitas vezes como eu defino um Terapeuta Transpessoal, aquele que vai pela selva de catana na mão com o seu paciente seguindo caminho atrás de si!

Onde encontras o desfrute?

Ui, pergunta pertinente… tantas e tantas vezes em frente ao computador, a trabalhar, a criar, a conceber coisas novas, perdida entre anseios internos que começam a delinear o novo que se forma na mente… junto ao mar… na natureza, no sorriso do meu filho, que me derrete… na vida, que me encanta, a dançar “sem moldes”, a beber um gin numa esplanada a ver o pôr do sol e a ouvir bossa nova. Naqueles momentos em que um aluno diz “Ah…. Agora compreendo…” ou quando alguém faz um suspiro e comenta “… caramba deitaste-me lá para o abismo” … momentos em que eu própria, em frações de segundos, navego por águas inóspitas e subo ao de cima com um sorriso de quem percorreu as catacumbas mais horripilantes… por vezes vivendo a vida, apenas, sem mais quês… com a simplicidade de Ser…

O que mais te ajuda/ajudou em momentos de crise/confusão/dor?

A meditação Zen, sem dúvida, foi um pilar que juntei à minha estrutura e que fez uma diferença enorme, e continua a fazer… ajudou a centrar, a voltar para dentro. Hoje, é o dar o passo atrás, o ativar o observador em mim e ver o que está a suceder ou sucedeu. Continuo a precisar de recolhimento, tempo para estar comigo, que me permita lamber as feridas, olhar o que há, sem julgamento, sem chicote, ou com o chicote mais pequeno…. É aqui que me encontro comigo mesma, que converso, acolho, aceito e processo (nem sempre com agrado), o que há… Depois regresso à “superfície” e entrego-me à vida, integrando o sucedido como experiência, umas vezes colocando em prática, outras nem tanto…

Qual seria a tua vida alternativa?

Hum…. Tão fácil, era Hacker, das “Boas”, com ética, vá, com consciência – uma White Hat Hacker – pois vivo muito bem em frente ao computador…  Desde muito jovem que tinha o gosto por perguntar “quem és? de onde vens? porquê? o que gostas?” sempre com uma forte vontade de ligar pontos, de estabelecer conexões, de encontrar caminhos que se cruzam, de conhecer mais as pessoas o que as une… O fascínio por esta “vida vem também associado à investigação, ao aceder à informação recôndita, escondida, inacessível ao “comum mortal” e à forte presença da “Salvadora” em mim, que durante muito tempo queria salvar os Fracos e Oprimidos… Qualquer semelhança com Terapeuta Transpessoal é pura coincidência…

Cumprir-me é…

Na verdade, cumprir-me pode ser muita coisa, mas quando lá chego o que percebo é que cumprir-me é viver, com prazer, tão somente isso.

O que a minha Alma me diria neste momento…

Gosto de te ver, estás a crescer de forma simpática…

Dizes a ti mesma que não consegues fazer alguma coisa? O que é e porquê?

Tantas coisas, a lista ocuparia muito espaço…

Falar em público, por exemplo – o meu sabotador interno fica frenético e faz horas extra com esta tarefa… fervilham ideias para boicote e ele trá-las a todas para cima da mesa, opondo-se a esta tarefa. Vem a sensação de não saber nada, de nunca saber o suficiente, de me perguntar porque é que me coloquei nisso ou se alguém poderia fazer isso por mim… e a verdade é que desisti de muitas coisas devido a esta questão… Hoje em dia já não paraliso, mas a agitação interna continua a ocorrer; Hoje em dia o lema é “mesmo com medo vai”. Há vezes em que me “dou mal”, mas a verdade é que a maioria das vezes acabou por “não custar nada” e desfrutei tanto!

Descreve o que é para ti o Sagrado.

O Sagrado já teve muitas formas ao longo da minha vida, já esteve ausente dela e reencontrei-me com ele há alguns anos, de uma forma muito especial, de uma forma humana; foi-me sendo mostrado por pessoas muito especiais na minha vida, que ser Humano é Sagrado! Então o Sagrado para mim é viver a vida tal qual ela é… Muitas vezes perdemo-nos de nós em busca de um Sagrado grande, especial, imposto por alguém ou por algo, onde temos que cumprir requisitos para que nos possamos cruzar com ele… mas não, não é nisso que acredito, acredito que o Sagrado habita dentro de nós e em tudo o que nos rodeia, uma forma de estar na vida em que quando honramos cruzamos o umbral do Sagrado”.

Como defines o sucesso, e como irás saber que o conseguiste?

Estava a tentar escrever algo elaborado, mas não, a resposta é simples: neste momento, defino o sucesso como estar viva e poder fazer coisas que me dão prazer, que me acalentam a alma. Esse é para mim o sucesso nos dias que correm. Complexo mesmo é não complicar algo tão simples!

Se eu pudesse falar para a minha adolescente, aquilo que poderia dizer-lhe era

Amiga, nem tu imaginas o que te espera, tudo aquilo de que tens medo agora,  vais fazê-lo; não precisas de te esconder da vida, ela vai acontecer-te na mesma, não precisas de te encolher, vão ver-te na mesma; assim, vive, aproveita, desfruta mais; a tua voz tem poder no mundo, confia que sim; tens a garra que precisas para viver o que se move dentro, não és um alien, há mais pessoas como tu… e mesmo que não sejam exatamente como tu, são cromos que pertencem à mesma caderneta! A tua timidez é fofa, mas se olhares bem, essa não és tu, essa não é a tua verdade e aquilo que te corre nas veias. Então arrisca um pouco mais a colocar no mundo o que te dá gozo, o que sabes que sabes! A garra que teimas em esconder!

 
 

 

 

 

ENTREVISTA A PATRICIA BENTO
TUTORA/FORMADORA ÁREA TERAPIA E RESPIRAÇÃO HOLOSCOPICA