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Entre | Linhas | Entrevista com Margarida Monarca

“Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da Terra.

Provérbio africano


 

Usando apenas 10 palavras, descreve-te a ti mesma.

Sonhadora, generosa, impaciente, curiosa, cuidadora, empática, justa, leal, a doçura e a tempestade de mãos dadas, corajosa.

Qual seria a tua vida alternativa?

Numa vida alternativa seria guarda-florestal! Recordo-me como aos 17 anos sonhava ir abraçar árvores na imensidão do Pantanal brasileiro, e com 18 me ensinaram a procurar trilhos de lontras aqui mais perto, na nossa Arrábida (que tanto amo), e lembro-me como aquela vida me fascinava. Vejo-me a viver numa qualquer zona verde do nosso planeta, mochila às costas e o cheiro da terra à volta. Acho que desde sempre o Sagrado da floresta me habitou as veias. 

Qual a tua estória preferida?

Do universo infantil, o Capuchinho Vermelho. Atualmente, e como as estórias se tornaram uma linguagem tão próxima, sinto muito como “minha” a Velha dos Ossos, da Clarissa Pinkola Estes; quando a conto emociona-me até à alma, sinto os “pés da velha da floresta” a pisar o chão e os ossos que se cobrem de carne, a carne de pêlo, e o pulo da loba quando se solta à Lua pela voz da canção.

Um lugar seguro?

O abraço de quem me ama e amo de volta. A minha casa.

Onde encontras o desfrute?

Na música, na dança. Num bom livro. Em conversas cheias de muito, de riso, silêncio, cumplicidade. No abraço e no sorriso do meu filho, no seu olhar curioso devorador de tudo. No puré de batata feito em casa, com muita manteiga. Na escrita, a alma no papel. Numa caminhada. No cheiro do mar, no sol a bater na pele. No estar com as minhas pessoas.

Se pudesses fazer uma pergunta ao Universo, que tivesses a certeza que iria ser respondida, qual seria?

Nenhuma. Prefiro que os mistérios assim permaneçam, cada vez mais, enquanto os anos passam, descubro a beleza escondida no que não sei.

O contacto com a Natureza oferece-me…

Ar, vida, imensidão e pequenez (a minha), enraizamento, protecção, colo, liberdade… é uma necessidade profunda, de que não posso prescindir.

Um ritual que faça diariamente…

Ouvir música e dançar enquanto tomo o pequeno-almoço com o meu filho. Nasceu espontaneamente e sinto que pinta o meu dia com mais cor e sentido.

Quando foi a última vez que deixaste a tua zona de conforto – como é que cresceste com ela?

Não foi a última, mas foi talvez a mais difícil, quando deixei emprego, casa, terra e embarquei no incerto. Descobri que sou capaz de dar a mão ao medo e respirar no meio da tempestade, quando é verdadeiramente aquele o caminho que o coração me pede.

Como é para ti um dia perfeito?

Um dia com tempo e os ingredientes certos: sol, o sal do mar na pele, brincar, descansar, família (amigos e amores), partilha, e um pôr-do-sol a espelhar rosa e vermelho nos rostos.

Qual a característica familiar que herdaste e que mais te apoia na Vida?

A força interior. Tenho colectado algumas estórias de família – que me ensinaram muito – e apercebo-me de que moram aqui gigantes, de uma ou de outra forma. Há uma capacidade de permanecer e continuar que sinto que me foi legada, faz parte de mim. 

Se eu pudesse falar para a minha adolescente, aquilo que pudesse dizer-lhe era…

Não estás só, eu estou contigo.

 
 

 

 

ENTREVISTA A MARGARIDA MONARCA
TUTORA/FORMADORA ÁREAS DE EDUCAÇÃO MINDFULNESS E CIRCULOS DE MULHERES