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Caminhos do Maternar – a escola da Mãe

“Isto quer dizer que não passei na Escola da Mãe?”, pergunta Bluey.

“Bem… sim, mas não faz mal. Todas falhamos na Escola da Mãe por vezes. Podemos recomeçar outra vez amanhã”, responde a Mãe.

 

Primeiro nasce a ideia.

Acarinhada e desejada, ou de surpresa, assaltando-nos com alegria. Por vezes susto e medo. Outras ainda desespero, raiva, rejeição. As primeiras emoções de um mundo de muitas outras que nos esperam, quando emerge a maternidade.

No mundo animado da Bluey, a Escola da Mãe é o lugar onde a pequena quer aprender a ser mãe; para isso, pede-lhe que a pontue enquanto cuida de um conjunto de balões a quem chama filhotes.

Na vida real, a de todos os dias, ninguém nos ensina a maternar; sabemos sim trocar fraldas, assoar narizes, dar sopa, vestir e calçar, deixar na escola e ir buscar à ginástica, banhos, pijama e dormir. Só que a maternidade não se esgota, nem pouco mais ou menos, numa qualquer lista de afazeres que se repete diariamente sem se pensar muito na coisa; a partir do momento em que nasce para o mundo, a mãe reinventa-se todos os dias, descobrindo na escola da Vida o seu caminho, tropeçando e levantando-se a cada vez. Acertando, falhando e recomeçando.

As mães já nascem cansadas. De longos partos, no ventre ou no coração. De muitas noites de olhos abertos, a espantar o sono como conseguem, enquanto os dias se fazem entre o êxtase do profundo amor e a dor de nada jamais ser como antes. Mas disto não se fala, cala-se para dentro, no lugar onde se abandonam as emoções mal-amadas.

Às mães de hoje pouco lhes é ensinado do antigamente, de como se levavam as crianças no peito ou nas costas à jornada de trabalho, de como se curam constipações, febres e maleitas menores com ervas, tisanas e xaropes, os contos de embalar costurados de pedaços de antigas histórias de família e lendas locais.

As mães de hoje vivem em casulos, separadas umas das outras, longe das tias, avós, bisavós e amigas de regaço pronto e bolos de canela no beiral. Vivem apertadas entre horários e esquemas, viagens de carro e comboios cheios com gente de olhos também cansados e repletos de pressa. Vivem da pressa. Depressa. Sem saber os nomes das vizinhas a quem pedir uns quantos ovos para fazer uma canja de galinha, das verdadeiras, que sabem a campo. E cujo sabor lembra o colo dessas mesmas avós.

E vivem – vivemos –, acima de tudo, tentando sacudir a culpa que parece que se agarra à alma quando algo corre mal. Quando não há tempo para o beijo de boa-noite que vem com a história, porque ainda há louça na pia e o almoço do dia seguinte para preparar. Quando atiram os sapatos para debaixo do sofá e enterram a cabeça na almofada para gritar em surdo, quando têm de falhar a apresentação do ballet porque o chefe precisa daquele relatório, quando o jantar é pizza demasiadas vezes. Culpa.

Todas falhamos na escola da mãe, por vezes. Não conseguimos ler todos os livros sobre maternidade e presença, fazer plasticina caseira, cultivar alfaces biológicas, entender as emoções nos olhos de um filho. Todas falhamos, então. Mesmo quem parece perfeito, ao nosso olhar.

Porque a maternidade faz-se de humanidade, também. De mulheres que tentam encontrar um buraco para se lembrarem que ainda o são (mulheres). E que o fazem com culpa – uma vez mais – , quando conseguem.

E recomeçamos amanhã, para os pares de olhos que nos espelham e vêm um mundo no nosso rosto.

É que para eles, tantas e tantas vezes, está tudo como deve ser.   

MARGARIDA MONARCA
TUTORA DE EDUCAÇÃO E CÍRCULOS DE MULHERES