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Olhar com Amor a nossa História

“Isto é o que necessito para os personagens dos meus livros: um coração apaixonado. Necessito de inconformistas, dissidentes, aventureiros, forasteiros e rebeldes, que fazem perguntas, torcem as regras e assumem riscos. As pessoas simpáticas e com sentido comum não são personagens interessantes.”

Isabel Allende


 

Se olharmos para um bom filme, para uma história, para um mito antigo, não encontraremos jamais uma personagem que nasceu numa família feliz, a quem tudo correu bem e que nunca teve problemas. Não é essa história que queremos ver, que queremos ler ou escutar. Queremos conhecer heróis e heroínas que são desafiados, que saem da zona de conforto e se descobrem mais e melhores. E que regressam para repor em consciência algo que se havia perdido.

Essa não é uma história distante. Essa história somos nós. Não há meio termo. Não somos somente pedaços, nem o lado solar, nem seríamos mais ou melhores se alguns episódios da nossa vida não tivessem acontecido. O que somos, o que fazemos, o que pensamos é o resultado de todos os instantes, da história completa.

Nascemos numa família e esta é o nosso primeiro amor, para onde o olhar inocente e amoroso se dirige. Mais velhos, tomamos um maior conhecimento dessa história e, por vezes, vem a revolta, o desapontamento perante a “imperfeição” de alguns membros da família, das suas escolhas, das decisões que trouxeram para o sistema. Cada uma dessas ações teve impacto da Alma Familiar. Cada um desses elementos interferiu na fluidez do sistema.

Ao tomar consciência dessa história e das implicações, as ações que escolhemos tomar podem, também, mover e alterar a alma Familiar. Todos os sistemas familiares procuram a harmonia e libertação.

Recordemos que, é também com essa história plena de movimentos complexos, ações paradoxais, atração e afastamento, que estamos aqui. O nosso nascimento, a nossa existência é, também, o resultado de cada um desses elementos, de cada escolha e decisão, pois somos o resultado de toda a Alma Familiar, ainda que sob a forma de um pai e de uma mãe. Ao rejeitar partes da nossa história, não só rejeitamos partes nossas como recebemos do sistema outras formas de procurar essa harmonia.

A forma mais eficaz para o sistema familiar chamar a atenção é colocando desafios na nossa vida, de forma a serem olhados, honrados e libertados. Isto acontece sempre que nos desconectamos com o Amor, o mais importante para a Alma familiar.

Confundimos tantas vezes Amor com alegria passiva, afeto límpido e transparente. Mas o Amor é a capacidade da Alma de acolher luz e sombra, de abraçar a inteireza. A conexão com este Amor dá-se através de uma aceitação profunda por tudo o que foi e por tudo o que é. Podemos não conseguir mudar a nossa história, mas conseguimos mudar a perceção que temos dela e olhar para nós mesmos desde um outro ponto.
Quando ganhamos consciência da nossa totalidade o significado dos desafios altera-se.

Este Amor do sistema de que falamos, alberga tudo, honra a vida que habita em cada um de nós como o mais sagrado que podemos possuir. A nossa mente poderá sempre arranjar desculpas e estratégias para nos desconectar, porém este Amor sistémico conhece o nível de aceitação, gratidão à Vida, que permite olhar para a nossa história e nós mesmos desde um ponto compassivo, um ponto de consciência e presença absoluta, que reconhece Quem Somos.

Então, orgulha-te da tua História, porque ela também és tu.

 

ANA SOFIA CORREIA
CONSTELAÇÕES SISTÉMICAS – ESCOLA DE DESENVOLVIMENTO TRANSPESSOAL