Blogue

Entre | Linhas | Entrevista com Élia Gonçalves

“Irmã amendoeira, fala-me de Deus. E a amendoeira cobriu-se de flores.”

Kazantzakis


Usando apenas 10 palavras, descreve-te a ti mesma.

Humana, criativa, sonhadora, apaixonada, leal, sincera, impulsiva, corajosa, buscadora, pragmática.

O que te comove?

A sinceridade e a simplicidade. Um abraço de corpo inteiro. Olhares cruzados e que atravessam estórias. Atos de amor arrojados. Um beijo profundamente apaixonado. O riso das minhas filhas. O nascer de um novo dia. O cheiro da ria formosa ao pôr-do-sol. Ver pessoas a comoverem-se. Ser-se quem se é.

Qual a tua estória preferida?

Sinto que ando em mudança de “mitologias”. De qualquer forma, a estória que sempre me ressoou foi a Pele de Foca, e esse retorno ao lugar onde em tempos abandonámos a verdadeira pele. Acho que a minha eterna busca é essa. Recuperar a minha pele ou, pelo menos, cada vez mais pedaços dela.

O que é a intimidade para ti?

O melhor do mundo. Adentrar fundo, partilhar cumplicidades, estar em lugares onde quem somos basta. Dedos e estórias entrelaçadas, ainda que por instantes. Honrar caminhos partilhados.  A intimidade é encontrar lugares seguros, aqueles que guardamos na pele e carregamos connosco a vida inteira. O que me sustenta e me faz melhor pessoa. Aquilo que mais busco na vida e nas pessoas.

Porquê a EDT?

Porque foi a casa onde tanto do que sou ganhou lugar. Onde viajei por entre os meus infernos pessoais sabendo que não me deixavam cair. Onde tantas vezes sinto que não sou suficiente e o olhar que me refletem é “Quem tu és basta.”

Porque as pessoas importam aqui, e os defeitos são “feitio”. Porque todos os que percorrem esta casa se comprometem com o seu próprio caminho e sabem dizer “lamento”, quando as coisas não correm bem. Porque se partilham risos e lágrimas e serviço com entrega e honestidade. Porque aqui posso ser eu.

De que é que não nos podemos esquecer na vida?

De estar Presentes. De não deixar coisas por dizer. De amar mais, mas sobretudo melhor. De expressar quem somos e deixarmo-nos tocar pela vida. De não nos distrairmos…

Se eu fosse um poema a última frase seria…

“Encontras-me sempre ali, onde podemos ver o pôr-da-Lua no mar.”

Cumprir-me é…

Sentir-me inteira. Ser honesta comigo mesma. Honrar caminho. Viver todos os instantes. Desfrutar daquilo que me é dado e saber ser grata. Arriscar. Olhar para trás com um sorriso.

É preciso transformar o Mundo. Por onde começas?

Por amar mais. Aceitar mais. Respirar melhor e fazer escolhas mais conscientes. Começo por mim….

Qual a tua memória de infância mais feliz?

As noites de Verão na praia de Faro. Os meus pais levavam uma manta para a praia e deitávamo-nos os três a procurar estrelas cadentes. Escutava a conversa deles, bem segura no meio das duas pessoas mais importantes do mundo, e sentia-me parte daquele universo tão grande que parecia engolir-me. Sentia esse Mistério que nos rodeia e a sacralidade de uma noite estrelada, tão avassalador quanto assustador. Mas tinha-os ali, aquelas duas pessoas que me guardavam. E não havia nada mais importante no mundo.

Descreve cinco coisas que te façam sorrir.

As minhas lindas filhas. Uma boa estória, escrita ou contada. Uma noite de boa conversa com amigos e um bom vinho tinto. Um belíssimo desafio de trabalho. A humanidade, a bondade, a vulnerabilidade.

As palavras pelas quais eu gostaria de viver são…

Acho que as disse todas anteriormente… simplicidade, mistério, sinceridade, intimidade, entrega, desfrute, gratidão.

 

ENTREVISTA A ÉLIA GONÇALVES
SUBDIREÇÃO EDT