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A Bela Adormecida e o Beijo do Despertar

A Bela Adormecida e o Beijo do Despertar

Se o nosso corpo é um mistério, uma dança bioquímica, a Consciência continua a ser um dos maiores enigmas da humanidade pois, como dizia Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos a viver uma experiência espiritual, somos seres espirituais a viver uma experiência humana.”

Quem somos? O que é a consciência?
A consciência é essa “Bela Adormecida” que espera ser despertada com um beijo (conhecimento superior) do seu Amado (autoconhecimento). É curioso observar que, quando perguntamos a alguém: “Quem é?” invariavelmente a resposta costuma ser o nome ou a profissão… no entanto, será que a pergunta foi respondida? O nome ou a profissão apenas revelam um aspecto da pessoa e, mesmo que nos fale da sua personalidade, sonhos ou pensamentos, no fundo, continuamos sem saber quem é.

Quem somos realmente?
Surge-me a definição que Deus ofereceu a Moisés: “Eu sou o que sou”. EU SOU… ou seja, “sou consciente de que sou”, de que existo… e sinto imediatamente que é essa consciência que define o nosso ser. Em termos holísticos, somos Consciências cujo véu do esquecimento fez esquecer a origem, aprisionadas no vasto mar do inconsciente que viemos recordar e desvelar.  

Cérebro, Mente e Consciência

 
Somos Consciências, ou seja, energias plenas de vida e sabedoria esquecida.  Etimologicamente, consciência vem do latim conscientia, que significa “com conhecimento”, ou seja, a consciência é o acto psíquico através do qual a pessoa se percebe a si mesma no mundo e ao mundo. Se os Sentidos captam a informação (do interior e do exterior), cabe ao Cérebro processar essa informação e à Mente atribuir-lhe um significado, tendo em conta as memórias e o inconsciente coletivo que nos ancora num passado como espécie. A consciência é como uma pedra preciosa em estado bruto, que podemos ir polindo e embelezando com primor. Isto supõe capacidade de liberdade e a possibilidade de ir além dos pensamentos automáticos, produtos de crenças e preconceitos que interiorizámos. Quando nos atrevemos a deixar de nos identificar com a forma distorcida ou reduzida através da qual a nossa mente representa a realidade, ficamos capazes de pensar com maior eficácia, pelo que a consciência vai mais longe que o pensamento.

Como despertar a Consciência


A atenção plena, a respiração e a meditação, constituem as chaves da abertura e expansão da consciência. Utilizemos as mesmas… com a curiosidade da criança interior que ainda levamos dentro e a persistência do adulto que agora nos habita, pela mão do nosso Eu-testemunha.
Se o nosso ser é essa consciência, tudo o que fizermos para desenvolver o nosso ser, passa por despertar a nossa consciência, deixando de sermos vítimas do mar desconhecido e revolto que, por vezes, a vida constitui. É deixar de estar anestesiado, é viver e não apenas existir. Colocar consciência na nossa vida diária, automatizada e apressada no seu devir, passa pela Atenção Plena, pelo “dar-se conta” dos pensamentos, das emoções, dos comportamentos e das expectativas pessoais dessa persona(gem) que diariamente encarnamos e daquilo que nos rodeia (cores, ceros, sons, sensações), despertando uma parte de nós que passa o dia adormecida e anestesiada pelos automatismos aprendidos.

O silêncio fértil

Ainda há pouco tempo erámos crianças mais ou menos despreocupadas… que viamos a idade adulta como que através de um par de binóculos virado ao contrário… longe. Num ápice já estávamos imersos num frenesim de reponsabilidades, numa roda viva de problemas… sum muito tempo para sorrir, quanto mais para parar. Presos num ego funcional e de automatismos feito, habituámo-nos ao ruído exterior que cada vez mais nos leva para longe do nosso fértil silêncio interior. Pensar é demasiado barulhento e a consciência só pode brotar de um espaço de silêncio… só o encontro com o silêncio, com uma profunda escuta observada desses amplos espaços que existem entre dois segundos, nos pode levar ao encontro com os diferentes níveis de consciência.

O caminho para se atingirem níveis cada vez mais profundos de consciência é a atenção, a observação, o estar presente no eterno aqui e agora, transcendendo a dualidade da mente e os juízos de valor, entrando em contacto com uma parte profunda do nosso ser, neutra e sanadora ao mesmo tempo. Isto permite-nos começar a tomar consciência das atitudes e emoções exageradas, pensamentos redundantes e ruminativos, comportamentos automáticos, atitudes de manipulação, posturas de dependência. Quando nos damos conta, abrimos a possibilidade de um maior leque de opções e compreensões, essenciais à evolução pessoal, permitindo ajustes harmoniosos ao nível comportamental e a adopção de atitudes mais equilibradas e adequadas.

Só através do despertar da nossa consciência é possível iniciarmos uma mudança e transformação do nosso eu… como diz um amigo meu inglês: Rising consciousness is as the first rising of the sun! – Sem dúvida, elevar a consciência é como o primeiro nascer do sol: luminoso, brilhante… prometedor!  

Lúcia Costa Soares
Tutora
Terapeuta Transpessoal
Consultora em Mindfulness